sábado, 10 de fevereiro de 2018

Jogos Olímpicos 2018 - OAR?

Jogos Olímpicos 


PeyongChang 2018




OAR?

Nestes primeiros dias dos Jogos Olímpicos de Inverno que estão a decorrer em PeyongChang (Coreia do Sul) tenho recebido diversas perguntas sobre a sigla OAR e por que é que no primeiro dia da competição por equipas não apareceu a bandeira da Rússia junto do nome dos atletas desse país. 
Os atletas russos que estão presentes nos Jogos Olímpicos em PeyongChang não estão autorizados a utilizar qualquer símbolo oficial da Rússia nomeadamente a bandeira. Por isso é que junto do nome dos atletas desse país aparece a designação OAR que significa "Olympic Athletes from Russia", ou seja, "Atletas Olímpicos da Rússia". Eles têm utilizado equipamentos neutros sem as cores da bandeira russa e só podem usar o logotipo com os famosos anéis olímpicos. 
Esta situação é o resultado de uma enorme polémica despoletada pelo "Relatório McLaren" que foi usado como base pela WADA (World Anti-Doping Agency) para investigar desportistas russos. A questão não é nova e já fez correr muita tinta durante os Jogos Olímpicos de Verão que decorreram no Rio de Janeiro em 2016. Muito resumidamente, o principal problema reportou-se aos desportistas do atletismo e no que diz respeito aos desportos de inverno o foco foi o biatlo e o ski. Segundo o "Relatório McLaren" alguns responsáveis do governo russo sabiam da existência de esquemas de doping nomeadamente o então ministro do desporto Vitaly Mutko. Richard McLaren, canadiano especialista em Direito do Desporto e que foi o autor do relatório, apontou baterias a todos os atletas russos que competiram nos Jogos Olímpicos de Sochi em 2014. É de salientar que também houve algumas denúncias anónimas que sustentaram a versão de Richard McLaren. Vários atletas que competiram em Sochi foram humilhados e os seus resultados foram apagados e muitos tiveram que devolver medalhas. O culminar deste jogo de bastidores ocorreu quando o Comité Olímpico Internacional anunciou que ia penalizar a Rússia nos Jogos Olímpicos de Inverno em 2018, proibindo esses atletas de usar bandeiras ou símbolos russos nos equipamentos. No caso de algum atleta russo vencer uma medalha de ouro, o hino russo não poderá ser tocado na cerimónia protocolar. Tal como referi em cima, os atletas da Rússia devem ser tratados como "Atletas Olímpicos da Rússia" em vez de simplesmente serem chamados de russos. O único símbolo oficial que podem usar é o logotipo olímpico. É de salientar que até ao início de Dezembro de 2017 os atletas russos não sabiam se podiam competir nos Jogos Olímpicos de 2018 (com início em Fevereiro) e isso levou a uma certa angústia não só psicológica como ainda lhes causou problemas na forma como organizar/planear o futuro próximo com estágios, acomodações, etc. Na mesma altura, o Comité Olímpico Internacional, através do seu Presidente Thomas Bach, referiu que ia apresentar uma lista com os atletas russos que foram investigados e oficialmente ilibados de suspeitas de doping. Como critério ficou determinado que a partir dessa lista, o Comité Olímpico Internacional ia endereçar convites aos atletas. Apenas os atletas que recebessem convite ficariam autorizados a competir em PeyongChang. Este critério provocou protestos porque ia claramente contra as regras de qualificação de cada um dos desportos. Ou seja, se o atleta foi considerado limpo e cumpriu os critérios de qualificação devia ser autorizado a competir e pronto. Mas o Comité Olímpico Internacional não entendeu assim.


A outra face da polémica

No que diz respeito à patinagem artística nenhum atleta russo acusou doping. Convém referir que as análises dos patinadores russos há muito tempo que são feitas em laboratórios externos, nomeadamente em laboratórios britânicos. As amostras dos patinadores que competiram em Sochi 2014 foram reanalisadas noutros laboratórios e os atletas foram ilibados de qualquer suspeita. 
Após os campeonatos da Europa 2018, que se realizaram em Janeiro, saiu uma notícia que caiu que nem uma bomba na federação russa e no mundo da patinagem. O Comité Olímpico Internacional decidiu não convidar Ksenia Stolbova e Ivan Bukin para os Jogos Olímpicos de 2018. Porquê? Boa pergunta... Os responsáveis do Comité Olímpico Internacional não apresentaram qualquer fundamento para a sua decisão. Leram bem: nenhum fundamento! Simplesmente não convidaram estes atletas. 
Ksenia Stolbova compete na categoria de pares com o parceiro Fedor Klimov, tendo conquistado a medalha de prata em Sochi 2014. Stolbova & Klimov são um dos melhores pares do mundo. 

Programa livre de Stolbova & Klimov em Sochi 2014


Ivan Bukin compete na categoria de dança com Alexandra Stepanova, tendo assegurado a medalha de bronze nos últimos campeonatos da Europa. Stepanova & Bukin estão numa fase ascendente da carreira. Quanto a Ivan Bukin, ele nem sequer competiu em Sochi. 

A notícia de que Ksenia Stolbova e Ivan Bukin não tinham sido convidados foi divulgada quando eles estavam de malas feitas para viajar para o Japão, para se juntarem aos outros patinadores da selecção nacional russa, e participar no último estágio de preparação para PeyongChang 2018. A falta de informação sobre este impedimento provocou desespero tanto em Ksenia Stolbova como em Ivan Bukin. Ksenia manifestou-se discretamente nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, mas recebeu imensos comentários e mensagens de solidariedade. Há poucos dias ela voltou a dar sinal de vida nas redes sociais e publicou uma mensagem de agradecimento pelo apoio recebido. Ksenia deixou no ar que tem toda a intenção de continuar na patinagem de competição e pretende competir nos próximos mundiais. 
Ivan Bukin ficou absolutamente perplexo e acabou por escrever uma carta aberta ao Comité Olímpico Internacional. 




Tanto Ksenia Stolbova como Ivan Bukin, com apoio institucional da Rússia, avançaram para tribunal. Mesmo que lhes seja dada razão, a verdade é que a decisão nunca chegará a tempo de lhes permitir competir nestes Jogos Olímpicos. 
Com esta situação, a federação russa viu-se obrigada a chamar Kristina Astakhova & Alexey Rogonov e Tiffany Zagorski & Jonathan Guerreiro à última da hora para substituir Ksenia Stolbova & Fedor Klimov e Alexandra Stepanova & Ivan Bukin respectivamente. 

Com a falta de Ksenia Stolbova e Ivan Bukin, a federação russa teve de repensar toda a estratégia que tinha montada para a competição de equipas. Era suposto que Alexandra Stepanova & Ivan Bukin fizessem a parte da dança curta na competição por equipas e afinal Ekaterina Bobrova & Dmitri Soloviev vão ter de assegurar quer a dança curta como a dança livre. Na categoria de pares era suposto que Ksenia Stolbova & Fedor Klimov pudessem patinar a parte do programa livre e assim essa responsabilidade passou para o par Natalia Zabiiako & Alexander Enbert. Relembro que a Rússia era uma das favoritas a vencer a medalha de ouro na competição por equipas. 

Ainda há mais...

Esta polémica em torno das relações da Rússia e do Comité Olímpico Internacional está longe de estar acabada. 
Poucos dias antes do início dos Jogos de PeyongChang foi divulgada uma decisão do tribunal arbitral do desporto na Suíça ilibando uma série de atletas russos das acusações que lhe foram apontadas depois do "Relatório McLaren". Vários atletas tiveram os seus resultados repostos quanto aos Jogos de Sochi e as medalhas foram devolvidas. Outros atletas foram ilibados das acusações de doping (cerca de 28). 
Eu pesquisei material em português sobre esta situação mas não encontrei quase nada. Mesmo assim lá descobri esta reportagem do canal Euronews sobre a atleta Elena Nikitina, a quem foi devolvida a medalha que ela conquistou em Sochi.
Aqui está o link: http://pt.euronews.com/2018/02/01/atleta-russa-estavamos-prontos-para-lutar-
No entanto, os recursos de outros atletas que não foram convidados para os Jogos de PeyongChang acabaram rejeitados. 

Como se todo este caso não fosse já tão confuso, os hackers que publicam no "Fancy Bears" encontraram material que alegadamente prova que o "Relatório McLaren" foi encomendado pelo governo canadiano. O Canadá é uma enorme potência nos desportos de Inverno e é adversário directo da Rússia em muitos desportos. Segundo os documentos descobertos pelos hackers do "Fancy Bears" o objectivo era afastar adversários do caminho. 

Seja qual for a verdade, o Comité Olímpico Internacional, a WADA e o Comité Olímpico da Rússia têm culpas no cartório quanto à gestão desta enorme polêmica. No que diz respeito à patinagem artística, o Comité Olímpico Internacional colocou na lama o bom nome de Ksenia Stolbova e Ivan Bukin sem divulgar qualquer fundamento que justifique o porquê deles terem sido excluídos dos Jogos de PeyongChang 2018. Como é que é suposto estes patinadores defenderem a sua honra se nem sequer foram informados da razão do seu afastamento? Infelizmente parece que eles foram transportados para um livro de Franz Kafka...


Alexandra Stepanova & Ivan Bukin


























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